1° Dia: O clã de Aurindo – Terno de Reis do Junquinho

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A nossa busca aos Reis se iniciou com a ajuda de Zé Benevides, grande incentivador da cultura do Reisado na região de Caetité. No primeiro dia, já

havia sido anunciada a nossa chegada à comunidade do Junco, na região de Maniaçú. E lá fomos nós... Na chegada do Junquinho, já fomos recepcionados por D. Helena, mãe de Aurindo, chefe do terno que estávamos à procura. Na conversa com ela, vários elementos já vieram à tona e se confirmaram sobre as andanças dos reizeiros. Era dia 3 de janeiro e Aurindo já estava há 3 dias com o seu Terno cantando o Reis pela região de Maniaçú. Mais uma vez fomos nós, pela estrada de barro afora, com o cenário já pronto nos envolvendo através das janelas do carro – o azul profundo do céu com algumas nuvens bem brancas e densas, que não acenavam com qualquer possibilidade de virar água, pelo menos naquele dia... e as casinhas de taipa, no chão de terra batido, plantações de palma, alimento fiel da mesa do sertanejo. Chegamos no pequeno povoado de Maniaçú e com sorte avistamos de longe a bandeira vermelha do terno de Reis do Junquinho. Aurindo na frente, puxando a marcha, e o resto do grupo acompanhando. Vinham cantando de porta em porta, quando nós os abordamos para tirar um dedo de prosa. Na conversa rápida que tivemos embaixo de uma árvore (o sol estava bem quente e eles já vinham cantando desde de manhã cedo), descobrimos que estávamos diante de um terno familiar. Tradição passada de pai pra filho. Na mesma formação, estava o avó, o pai e o neto (mais tarde descobriríamos que essa

formação se repetiria várias vezes em outro ternos que conhecemos). Acompanhamos a sua andança, casa em casa, admirados com o respeito dos donos das casas que abriam as suas portas para ouvir o bumbo e a gaita do Reis de Aurindo. Ali os elementos já começavam a virar registros importantes na câmera de vídeo. Anderson e Hilário também já começavam a capturar os primeiros acordes da música de Reis. A cênica, a maneira de tocar os instrumentos, o ritual, tudo isso ia ficando mais atraente a cada casa que o Reis entrava. Na chegada da casa de um parente, o Reis do Junquinho recebeu a visita de um dos sobrinhos do chefe Aurindo, Maxwel, que vinha do corte-da-cana (alternativa de trabalho para muitos jovens da região), deixando muito claro, através da maneira como tocava, que estava com saudades das batidas do bumbo que já havia sido tocado pelo tataravô.

A essa altura já havíamos nos misturado ao clã de Aurindo e de lá seguimos junto com eles de volta para o Junquinho. Precisávamos reunir todos os integrantes na porta da casa do chefe do Terno para fazer uma foto de família. Lá a conversa foi mais longa, e a tradição daquele Reisado nos foi contada desde o seu surgimento. D. Helena nos surprendeu com um jantar digno de Reis e terminamos a noite com o carinho da matriarca, se deliciando com o seu magnífico pirão de galinha. A despedida foi emblemática, no abraço de Dona Helena e no olhar de Seu Joaquim a certeza de que voltaremos ali...

De volta à cidade, cama e descanso para continuar a nossa trilha que nos levaria ao Riacho da Vaca... terra do nosso já conhecido Seu José Sabino.




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